Hospital Oncológico Infantil inclui primeiro indígena no 'Canto da Empreendedora'

Pai de uma menina em tratamento, Hokir Ka’apor confecciona pulseiras, brincos e colares para se manter em Belém, e agora participa do projeto desenvolvido pela unidade de saúde do Estado

Hokir Ka’apor, 23 anos, viaja 309 quilômetros sempre que a filha Wawxingiaki, 7 anos, precisa passar por tratamento de saúde em Belém. Desde 2019, a menina convive com as sequelas de um tumor cerebral, que a levou a ficar três meses internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém. Idas e vindas à Casa de Saúde Indígena (Casai), no distrito de Icoaraci, fazem parte da rotina de Hokir. Mas são as habilidades manuais que ajudam a manter a família na capital paraense, para que a criança possa dar continuidade ao tratamento no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR) e na Fundação Santa Casa do Pará.

Quando Wawxingiaki precisa de consultas, exames e fisioterapia, os pais deixam para trás a caça, a agricultura, a pesca e a produção de farinha na Terra Indígena Paracuí, no município de Paragominas, no sudeste paraense, onde residem. Mas Hokir e a esposa encontraram nos adornos indígenas um meio de garantir a subsistência e o deslocamento da Casa de Apoio para os serviços de saúde. Nesta semana, ele se tornou o primeiro representante dos povos originários a participar do “Canto da Empreendedora”.

O projeto desenvolvido pelo Escritório de Experiência do Paciente (EEP) do Hospital Oncológico Infantil visa garantir renda extra, por meio do trabalho e criatividade de mães e usuárias da unidade. Mas como a esposa precisa ficar com a filha e o bebê do casal, Hokir foi convidado a participar da feira expositiva. Pulseiras, brincos e colares são resultados da desenvoltura com as mãos refletida no artesanato confeccionado por eles. Alguns adornos levam até dois dias para serem concluídos.“A inspiração vem da natureza e daquilo que faz parte do nosso cotidiano na aldeia, como os animais da nossa terra: onça, arara, pato e jabuti. Mas também remetem às nossas pinturas corporais, que estão carregadas de tradição, simbolismo, e refletem nossa visão de mundo. Os acessórios são confeccionados de materiais naturais, como sementes, ou materiais sintéticos, como miçangas, e possuem cores vibrantes e desenhos”, disse Hokir.

Cultura e história – A assistente social da Casai, Olgarina Nascimento, ressalta a importância das parcerias entre as instituições de saúde não só para garantir o direito ao atendimento, mas para promover a cultura dos povos originários. “Articulamos junto aos órgãos competentes para garantir os direitos e a proteção do povo indígena, mas inseri-lo nesse contexto de protagonismo e empreendedorismo também é uma forma de pensar e manter a cultura e história dos povos originários. Em breve, traremos outros pacientes para participar de novas edições do projeto”, informou Olgarina Nascimento.

“O nosso principal objetivo é promover a equidade de maneira respeitosa e intercultural. A ideia é mostrar que os indígenas fazem parte de uma coletividade, e resguardar o direito deles à autodeterminação. Também é imprescindível reconhecer as potencialidades e as contribuições desses povos para a formação do povo brasileiro”, acrescenta Elizabeth Cabeça, membro do Escritório de Experiência do Paciente.

Serviço: Credenciado como Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo é referência na região amazônica em diagnóstico e tratamento especializado do câncer infantojuvenil, na faixa etária de 0 a 19 anos. A unidade é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), e atende pacientes oriundos dos 144 municípios paraenses e de estados vizinhos.