Hospital Oncológico Infantil destaca a importância do diagnóstico precoce

Até fevereiro deste ano, 822 pacientes estavam em tratamento no Hoiol

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado exercem importante influência no prognóstico da doença oncológica pediátrica, elevando as chances de cura em até 80%. Mas ainda existe por parte dos profissionais de saúde a dificuldade em suspeitar de uma neoplasia nessa faixa etária. Segundo a oncopediatra Renata Barra, que  coordena o Serviço de Oncologia do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), o desafio é determinar os sintomas que alertam para a possibilidade da doença por serem os mesmos de outras patologias comuns da infância.

“Não existem exames de rastreamento para cânceres que acometem crianças e adolescentes, porém os pais devem monitorar febre sem causa aparente, dor de cabeça constante, manchas roxas, vômito, palidez e fraqueza. O pediatra deve desconfiar quando já descartou qualquer outra doença e esses indícios não melhoram com medicação, então encaminhar para um médico especialista para que sejam feitos exames específicos”, enfatizou a oncopediatra.

Cerca de 8 mil casos novos de câncer infantojuvenil devem ser registrados no Brasil para cada ano do triênio 2023/2025, conforme estimativas do Instituto  Nacional do Câncer (Inca). Até fevereiro deste ano, 822 pacientes estavam em tratamento no Hoiol. A Unidade de Alta Complexidade em Oncologia é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).

Apesar de ser considerado raro e compreender uma taxa de 2% a 3% de todas as neoplasias na maioria das populações, o câncer é a principal causa de morte por doença na faixa etária de 1 a 19 anos no Brasil. Não é possível preveni-lo. As chances de cura  são associadas ao diagnóstico precoce em fase inicial, visto que não existem evidências científicas de que a doença é causada por algum fator ambiental, como tabagismo, alcoolismo e infecções por papilomavírus (HPV).

Oncopediatra do ’Octávio Lobo (Hoiol)’, Renata Barra

“A medicina dispõe de vários exames para rastrear câncer em adultos, mas quando se trata de câncer infantil essa possibilidade é nula. Então, o trabalho é pautado na prevenção secundária, ou seja, identificar os sinais e sintomas, fazer o diagnóstico precoce e iniciar o tratamento adequado para o tipo de neoplasia maligna que acomete o paciente”, esclareceu a médica Renata Barra.

Os tipos histológicos do câncer infantil são distintos, as células sofrem a mutação no material genético e permanecem com as características semelhantes da célula embrionária, multiplicando-se de forma rápida e desordenada. Os principais tipos são as leucemias (principalmente as linfóides agudas), tumores do sistema nervoso central, os linfomas, os neuroblastomas, hepatoblastomas e o tumor de wilms. As crianças com algumas síndromes têm risco aumentado de desenvolver câncer, como as síndromes de Down, Fanconi, Kinsbourne e Neurofibromatose tipo 1.

Renata Barra também pontua que o tratamento também é diferenciado, isso engloba as drogas utilizadas e os protocolos clínicos. “As principais modalidades terapêuticas são a quimioterapia, a  radioterapia e a cirurgia. As neoplasias linfoproliferativas como leucemias e os linfomas são tratadas com quimioterapia e, em alguns casos,  pode haver indicação de radioterapia. Já a abordagem dos tumores sólidos contempla as três modalidades terapêuticas. Também são utilizadas  as drogas-alvo que agem diretamente sobre o tumor para preservar células  saudáveis do corpo  e causam menos efeitos colaterais do que as drogas convencionais”, disse.

“É importante lembrar que enquanto o câncer no adulto se desenvolve lentamente, na criança é muito mais agressivo. Isso acontece porque as células se multiplicam rapidamente, devido a fase de crescimento.  No entanto, respondem melhor aos métodos terapêuticos, porque tumores infantis são quimiossensíveis e radiossensíveis, portanto, há grande e rápida destruição de células tumorais”, elucidou.

A oncopediatra destaca ainda que o principal desafio é “fazer chegar informação em todas as localidades do Estado, capacitar os profissionais da assistência básica para suspeitarem de uma neoplasia nesta faixa etária e aplicarem a conduta adequada para confirmar a doença e encaminhar essa criança para receber o tratamento adequado em tempo hábil”.