Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém, é referência no diagnóstico e tratamento de neoplasias malignas na população infantojuvenil da região amazônica
De acordo com projeção do Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 11 mil novos casos de leucemia devem surgir até o término do triênio 2023-2025. Tipo de câncer que afeta a produção de células sanguíneas na medula óssea, a leucemia pode acometer pessoas de qualquer idade. Nas crianças, os subtipos agudos são mais frequentes, enquanto que as formas crônicas da doença são mais incidentes em adultos. Independente do tipo, especialistas afirmam que o diagnóstico precoce permite um tratamento mais efetivo e com melhores perspectivas de cura.
No Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), em Belém, crianças e adolescentes dos 144 municípios paraenses e Estados vizinhos recebem tratamento especializado contra o câncer. Atualmente, 370 pacientes com leucemia são atendidos na unidade de alta complexidade em oncologia, que é gerenciada pelo Instituto Diretrizes, em parceria com o Governo do Pará, por meio de contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
A diretora técnica do Hoiol, a oncologista pediátrica Alayde Vieira, explica que as leucemias são as neoplasias que mais acometem crianças e adolescentes. As Leucemias Linfoblásticas Agudas (LLA) representam, aproximadamente, 85% de todos os casos desse tipo. No ranking de incidência figuram ainda as Leucemias Mieloides Agudas (LMA) e as Leucemias Mieloides Crônicas (LMC), que são mais raras no público infantojuvenil.
Mês de conscientização sobre a Leucemia, a campanha Fevereiro Laranja acende o alerta para alguns sinais e sintomas da doença, como sangramentos gengivais e nasais. “As LLA e LMA podem se apresentar na forma de febre de origem indeterminada e por mais de duas semanas. Também é comum ocorrer o surgimento de manchas roxas no corpo e em locais que são de difícil trauma, como a região das costas e do peito da criança”, explica Alayde.
Pais e responsáveis também devem ficar atentos à palidez progressiva, já que a mudança na tonalidade da pele da criança pode ser um indicativo da doença. “Pode ter seguido a isso o aumento do volume abdominal com fígado e baço palpável e, nos meninos, o crescimento indolor da bolsa testicular. À medida que a leucemia progride, os sintomas ficam mais intensos e as crianças começam a ter infecção de repetição, perda de peso e falta de apetite”, alertou a oncologista.
Tratamento – A quimioterapia, tratamento sistêmico que usa remédios para combater ou impedir o crescimento das células cancerosas, é um dos principais recursos terapêuticos nesse enfrentamento. E a equipe médica é a responsável por avaliar a administração dos fármacos ponderando os benefícios e a probabilidade dos efeitos adversos no paciente.
“Seja via oral, na veia, intramuscular ou intratecal (quando o medicamento é administrado diretamente no líquor para tratar o sistema nervoso central acometimento pelas leucemias agudas) a quimioterapia é uma opção de tratamento. E, quando somente esse tratamento não é suficiente, alguns casos podem ser indicados para o transplante de medula óssea”, explicou a especialista.
Doença multifatorial – A oncologista conta que algumas crianças têm predisposição genética à doença, a exemplo das com síndrome de down, que têm de 10 a 15 vezes mais chances de serem acometidas pela leucemia. A exposição de gestantes à radiação ionizante de aparelhos como os de raio-X e tomografia também é um fator de risco, bem como o contato com o tabagismo e derivados de benzeno.
“Existem estudos norteando que as crianças que não foram estimuladas com a vacina, recém-nascidos grandes para a idade gestacional (GIG) ou crianças que deixaram de ser amamentadas antes do tempo são mais predispostas a desenvolver leucemia. Isso porque a doença surge na medula óssea, que é a fábrica do sangue, então, quanto mais o sistema imunológico estiver ‘treinado’, mais as crianças conseguem se defender da leucemia”, afirmou Alayde.
A especialista recomenda ainda que, ao notar perda de peso, febre recorrente e dores ósseas, os pais suspeitem do quadro de leucemia e procurem um pediatra para que, a partir do exame de hemograma, inicie a investigação. Confirmada a suspeita, o paciente deve ser encaminhado a um hematologista ou oncologista pediátrico para que seja dado início ao tratamento adequado.
A dona de casa Elizandra Ewellem, de 33 anos, notou algumas mudanças na respiração da filha, Thayla Brito, de 9 anos, mas não imaginava que se tratava de um câncer. “Thayla ficou sem respirar pelo nariz por um mês, aí começaram a aparecer glândulas e procurei a emergência. Depois de exames e um período de internação, ela foi diagnosticada com leucemia LLA tipo T e começou o tratamento com quimioterapia. Ficou carequinha por um ano e seis meses e ao todo já são quase três anos na luta contra o câncer”, afirmou.
Naturais do município de Juruti, oeste do Pará, elas tentam manter a rotina na capital. “Quando chegamos ao hospital, ela estudava pelo WhatsApp, com os professores da minha cidade mandando os trabalhos. Mas a médica a liberou para estudar na classe (Classe Hospitalar Prof. Roberto França, situada no quinto andar do Hoiol) e, graças a Deus, ela não parou com os estudos. E ficou muito animada, porque ia voltar a ter professores presencialmente”, afirmou Elizandra, que, quando possível, participa das atividades lúdicas realizadas na instituição.
“As ações contribuem muito para o tratamento dos nossos filhos. Eles passam por tantas coisas e isso (os projetos) vêm para dar força para eles continuarem lutando pela vida. Aqui a gente vê que todos são queridos por pessoas que dão muito amor, carinho e atenção para nossos filhos”, finalizou a jurutiense.
Texto: Ellyson Ramos – Ascom/Hoiol
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