Hospital Oncológico Infantil celebra vitória dos pacientes com a 'Árvore da Cura'

Arte de autoria da artista plástica e muralista Mama Quilla simboliza o sucesso do tratamento de crianças e adolescentes contra o câncer na unidade

O câncer infantojuvenil representa de 1% a 3% de todos os cânceres e não tem causas bem definidas. O diagnóstico não é fácil, afeta a rotina, a saúde física e emocional das crianças e adolescentes e das respectivas famílias que acompanham o processo de adoecimento. Neste dia 23 de novembro, quando se celebra o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil, as instituições de atenção à oncologia alertam sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado que elevam as chances de cura em até 80%, cenário que aos poucos desfaz os tabus sobre a doença. 

Em Belém, o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol) registrou a cura de 288 crianças e adolescentes, do ano de 2019 a 22 de novembro de 2023, por meio do projeto Sino da Vitória. A unidade gerenciada pelo Instituto Diretrizes, sob contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), atende, atualmente, 805 pacientes. Desses, 366 estão em monitoramento ambulatorial, ou seja, estão sem a doença no organismo após passarem por intervenções terapêuticas. O tratamento pode durar anos, depende do tipo de tumor e da evolução clínica do paciente.

Sino celebra a vida

Toda vez que o badalar do sino ecoa no hospital, o público interno se reúne nos corredores para prestigiar mais uma vitória contra o câncer. “O momento é marcado por uma cerimônia  e envolve os profissionais que acompanharam a evolução do usuário e a respectiva família. A tradição realizada desde 2019 recebeu mais um detalhe: a ‘Árvore da Cura’. A arte da artista plástica e muralista Mama Quilla marcará a trajetória de sucesso vivenciado pelas nossas crianças e adolescentes, com idades entre 0 a 19 anos, que passaram pela instituição”, destacou Sara Castro, diretora-geral do Hoiol.

A artista paraense é voluntária do hospital e já pintou as salas de quimioterapia inspirada nas vivências na Amazônia. “Saber que crianças e jovens vão interagir com minha arte por um motivo tão bonito, me emociona, porque várias pessoas da minha família já passaram pelo tratamento do câncer. Apesar de ser uma árvore simples em comparação a outros trabalhos em magnitude e complexidade técnica, é o mais nobre que já fiz. Sinto-me muito honrada em participar desse processo”, disse Mama Quilla.

A coordenadora do Escritório de Experiência do Paciente, Natacha Cardoso, enfatizou a importância do projeto. “Temos uma rede de apoio formada pelos familiares,  colaboradores, que  são os atores principais desse período de assistência, e pelo próprio usuário. A ideia é falar de vida e que câncer tem cura, sim. Surgiu para que os pacientes que vão badalar o sino registrem a mãozinha, deixem uma marca para posteridade e todos não lembrem o câncer só como perda, mas como superação e momento de celebrar a vida”, destacou.

A árvore foi inaugurada pela estudante Willyane Dias, 22 anos, na terça-feira(21). Ela foi diagnosticada aos 16 anos com um linfoma de Hodgkin, tipo de câncer que se origina no sistema linfático, sem ao menos entender o que era câncer. “Fiquei muito confusa com o diagnóstico, não sabia o que ia enfrentar. Parei de estudar e de praticar handebol, minha pele descamou na região do pescoço, mas perder o meu cabelo afetou muito a minha autoestima. Eu não aceitava, porém o acompanhamento psicológico me ajudou a encarar a minha condição com mais leveza”, contou.

Moradora do bairro do Tapanã, a jovem conta que chegou a ser aprovada no vestibular, mas que não conseguiu cursar a faculdade. Após tocar o Sino da Vitória e deixar a marca de uma das mãos na árvore, refletiu sobre os planos para o futuro. Ela pretende cursar medicina e servir de inspiração para aqueles que ainda estão em tratamento. Hoje, pratica jiu-jítsu  e pretende vencer na vida e no tatame.

“Quando pintei minha mão na árvore, senti uma emoção tão grande. Senti que estava representando todas as crianças que almejam estar ali ou que não obtiveram êxito. Não consigo expressar, apenas sentir. Desde pequena queria ser médica, mas sempre considerei algo muito distante da minha realidade. Hoje sei que se eu me dedicar, posso me tornar uma oncologista pediátrica e contar minha história para meus pacientes”, afirma Willyane Dias.

“Pulando igual uma pipoquinha”, foi assim que Josiane Silva definiu a alegria da filha Aysha Nascimento, de 7 anos, ao receber a notícia da cura há dois dias. A família descobriu por um caso que a criança, de apenas 1 ano e 8 meses na época, tinha um câncer no rim, após apresentar barriga inchada após chupar uma pata de caranguejo. Aysha foi transferida de um hospital no município de Ananindeua para o Octávio Lobo.

“Minha filha aprendeu a falar e a andar dentro do Hoiol, a infância dela praticamente foi dentro desse ambiente. A Aysha chegou a perder o cabelo cinco vezes durante o tratamento, foi muito difícil. Passou um filme na minha cabeça, entrei aqui carregando um bebê no braço e uma sacolinha de papel com os documentos. Ontem vi a minha filha caminhar pelos corredores tocando o sino. A médica perguntou ‘Aysha você quer tocar o sino?’, e ela retrucou: ‘É o sino que a gente toca quando está curada?’, e começou a pular e dar gritos de felicidade”, contou a mãe.

A alegria era tanta que a menina queria ‘pintar’ as duas mãos na Árvore da Cura. “Eu fiquei muito feliz quando a minha médica falou que eu estava curada, quero agradecer ao meu Jesus, a minha família e as minhas médicas que ficaram sempre ao meu lado”, disse a criança.

Estimativas – O câncer infantojuvenil  é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral após os acidentes. Para cada ano do triênio 2023/2025, O Instituto Nacional do Câncer estima  7.930 novos casos. A diretora técnica do Hoiol, a oncopediatra Alayde Wanderley, alerta que “os sintomas se assemelham a doenças comuns na infância, portanto febre sem associação com infecção, perda de peso excessiva, inchaço abdominal, nódulos e outros sintomas persistentes necessitam de avaliação médica especializada”.

“Os tumores da infância são mais agressivos, têm crescimento progressivo e rápido, mas em compensação as crianças respondem melhor ao tratamento  que os adultos”.  Ainda segundo a oncopediatra, na maioria dos casos, a quimioterapia é de caráter curativo, dependendo do grau de acometimento (estadiamento) do câncer. “O tratamento deve ser feito em centros com profissionais com expertise para tratar o paciente com esse perfil”, orientou.

Texto de Leila Cruz / Ascom HOIOL