Problemas bucais podem interromper tratamento oncológico, diz cirurgião

Odontólogo, Douglas Guimarães, do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol), recomenda consultas odontológicas periódicas como prevenção

Antes de iniciar o tratamento oncológico, crianças e adolescentes devem ser submetidos a uma avaliação com o cirurgião-dentista para tratar qualquer alteração ou infecção na cavidade bucal. Essa atenção deve ser mantida durante e após as intervenções terapêuticas devido aos efeitos colaterais provenientes da quimioterapia e da radioterapia que podem causar manifestações orais graves, agravar condições clínicas e interromper a continuidade do tratamento, explica o odontólogo Douglas Guimarães, do Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (Hoiol). 

“As intervenções terapêuticas causam reações adversas que afetam a qualidade de vida do paciente e agrava situações orais preexistentes. As mais comuns são alterações no paladar, alterações nos dentes que estão sendo formados nas crianças, redução do fluxo salivar (xerostomia),  inflamação da mucosa que reveste a boca (mucosite oral), que interfere em funções como a fala, mastigação e alimentação, inflamação na gengiva; dor de dente e até abcessos dentários, que podem atrasar as quimioterapia e até mesmo aumentar o tempo de internação”, afirmou o cirurgião-dentista.

“Os pais precisam ter consciência sobre essas intercorrências. O período de baixa imunidade favorece o crescimento bacteriano, viral e fúngico, portanto uma simples infecção na cavidade oral ocasionada por cárie, pode agudizar e gerar um infecção sistêmica. Somado a isso, a alteração no fluxo salivar enfraquece a capacidade de defesa contra infecções locais e cáries”, explicou Douglas Guimarães.

Conforme Guimarães, o Hospital dispõe de protocolos adequados para prevenir e tratar as afecções orais provenientes do tratamento antineoplásico. “O ideal é que o paciente comece o tratamento oncológico sem cárie na boca. A periodicidade é definida pelo dentista de acordo com a necessidade de cada um, geralmente a cada 3 ou 6 meses. Aqui são oferecidos serviços de limpeza, restauração, extração, aplicação de flúor e laserterapia. Todos os pacientes são acompanhados, aqueles internados e em atendimento ambulatorial, com objetivo de reduzir as complicações orais”, disse. 

No período de janeiro a setembro de 2023, a instituição realizou 866 consultas odontológicas ambulatoriais. “Os pais precisam ter consciência sobre a importância desse tipo de cuidado. Os dentes das crianças precisam ser escovados após todas as refeições, assim como deve ser reduzido o consumo de alimentos ricos em açúcar, como balas e biscoitos, e aqueles que podem causar lesões, como os mais ácidos, refrigerados e duros, visto que a quimio e radioterapia deixam a pele da boca mais sensível”, orientou.

A falta de higiene ou de uma higiene oral adequada favorece tanto a cárie quanto o surgimento de infecções e outras doenças bucais, como gengivite e mau hálito. Para incentivar a assiduidade e reduzir a taxa de absenteísmo nos consultórios de odontologia, a Coordenação do Ambulatório promoveu ações educativas nas salas de espera. A programação, desenvolvida por meio de rodas de conversas e atividades lúdicas, contou com a participação de acadêmicos voluntários da área de odontologia e equipe multidisciplinar do Hoiol.

“Realizamos diferentes ações para estimular e conscientizar os responsáveis e as crianças sobre a importância da saúde bucal. Mostramos todos os efeitos adversos ocasionados pelo tratamento e pela falta de regularidade nas consultas de odontologia, bem como ensinamos a correta escovação dos dentes. O acompanhamento especializado é de fundamental importância para o tratamento efetivo, portanto precisamos do apoio das famílias dessas crianças e adolescentes para que consigamos prevenir e tratar as complicações orais que surgem durante as diferentes fases do tratamento oncológico”, destacou Alessandra Trindade, coordenadora do ambulatório.